Oi Pessoal,
Sei que "As crônicas de Fedors - A verdade será revelada Volume 3" está demorando muito para sair, mas não se preocupem, ele vai sair! Meu tempo tem se tornado cada vez menor depois que eu me decidi pela carreira de editor! A coisa ficou séria e as publicações da Selo Jovem estão a mil! Devido a tanta correria, eu escrevo somente nos finais de semanas, porém, como eu venho dizendo há alguns anos: vou fechar a trilogia! E assim que possível, voltar a criar tramas paralelas sobre o Mundo de Esteros.
Para vocês não ficarem órfãos de novidades, segue um trecho inicial do livro:
Passaram-se duas noites e dois dias...
Fedors a cada dia aprecia mais a presença de Salazar. O diálogo entre os dois amigos segue em ritmo impressionante. Os acontecimentos na família Destrus foram lamentáveis, obviamente esse foi o último comentário proferido pelo viajante sem destino. Pela terceira vez a lua ecoa ao horizonte, os pernilongos e demais mosquitos sanguessugas voam desorientados pelo forte cheiro, expelido pelo cachimbo de Fedors. Salazar estava nesse momento há vinte e uma horas sem dormir, as olheiras sob seus olhos eram visíveis.
Percebendo a exaustão do amigo, Fedors dispensa-o para que descanse um pouco:
— Por hora sugiro que descanse um pouco, meu amigo. Assim que saciar suas necessidades voltarei a lhe contar a minha história.
Salazar bocejou em seguida se deitou, esticando as pernas.
— Sim, realmente! Nas últimas horas me perdi em suas palavras, receio que me esqueci das minhas necessidades mortais. — Responde, exibindo cansaço.
Fedors focou seu olhar sob Salazar, rangeu a testa, intrigado, perguntou: — Não deixei de notar o modo em que se refere à vida “mortal” por acaso sente-se mal sendo um simples homem? — Pergunta Fedors, perturbado com o modo em que Salazar se refere as suas necessidades diárias.
Salazar Sorriu.
— Perdoe-me mais uma vez por minhas palavras um tanto desatentas. Talvez seja o sono que está me deixando desorientado? — Agora Salazar estava deitado de frente, com os olhos fixados no céu, apreciava as estrelas.
Fedors percebe nesse instante que Salazar se distraiu e parecia não dar mais atenção as suas palavras. Pausando a conversa, levou sua mão direita até o bolso, retirou mais um punhado de fumo e abasteceu o cachimbo, logo em seguida respondeu: — Talvez sim... Ou talvez, esconda alguma coisa sobre o seu passado e queira dividir comigo? — Nesse momento Fedor volta a focar seu olhar em direção a Salazar, de algum modo, desconfiava que o viajante escondesse algo sobre sua origem.
— Não... — respondeu-lhe Salazar, sem olhar em seus olhos.
— Não? O que quer dizer com “Não” — pergunta Fedors, secamente.
Salazar virou o rosto em direção a Fedors e voltou a sorrir, com os olhos pequenos de tanto sono, respondeu: — Não tenho nada a contar-lhe sobre mim que já não saiba. Sou apenas um viajante que deseja mais uma noite em sua companhia. Dormirei por algumas horas e assim que restabelecer as minhas energias voltarei a apreciar sua história. Desejo ouvi-la até o final, mesmo que seja lamentável! — Afirmou Salazar, quase que fechando os olhos de tanto sono.
Fedors exibiu feição de surpreso, desta vez respondeu em voz alta, e muito rapidamente: — Lamentável?! Mas, ainda nem terminei de contá-la a você, como presume que seja lamentável?
Salazar adormeceu e nem sequer ouviu as últimas frases de Fedors, que o contemplou por alguns minutos. Levantando-se caminhou em sua direção e movendo suas mãos tocou-o, deixando o corpo de Salazar descansar sobre o tronco da árvore. Virando-se retirou um lençol e forrou sobre a grama que pisava. Apalpou novamente o corpo adormecido de Salazar, chacoalhou a cabeça em sentido horário e contrário, parecia confuso. Mas deitou-o sobre o lençol e deixou-o repousar.
E Fedors continuou a fumar o seu enorme cachimbo prateado, em seus pensamentos imaginava quem poderia ser aquele homem, alguém que seguia fissurado em sua história. Uma pessoa especial que doou a ele todo o seu tempo e nem sequer se amedrontou com a forma horrível e desfigurada em que se encontrava. Já não mais importa quem seja ele, agora Fedors o acolheu como amigo...
***
No outro dia muito cedo, exatamente às seis horas da manhã, Salazar desperta de mais uma tranquila noite de sono. Erguendo seus braços ao alto boceja abrindo aos pouco os olhos, no entanto contempla Fedors sentado no mesmo local de sempre.
— Bom dia! – Disse Fedors ao seu amigo de prosa.
— Bom dia, digo eu – responde Salazar com um enorme sorriso de otimismo.
— Teve um bom sono?
— Tive, sonhei que estava em um lugar formidável e a grama era esplêndida, as pessoas eram doces e prestativas. Os animais pastavam em pastos fartos, haviam crianças sorrindo por todos os lados. Quando finalmente estava convencido que aquilo era real, acordei. – Responde Salazar viajando em seus pensamentos.
— Sonhar... Isso é o que mais me faz falta depois da imortalidade. Eu daria tudo para poder voltar a sonhar. Sentir meu coração pulsar e o sangue quente percorrer minhas veias, sentir mais uma vez fome e poder saciá-la, eu daria tudo por isso! — Voltou a ficar triste.
— Nem tudo pode ser pra sempre, meu amigo, nem mesmo a imortalidade. Acredite na superação que um dia poderá voltar a contemplar a felicidade. — Responde Salazar desejando novamente o sorriso de Fedors.
— Não... mas no meu caso não há mais solução. Eu barganhei a minha alma ao próprio demônio, tenho certeza de que ele não voltara atrás na sua aquisição. — Fedors após responder essas palavras, nota um líquido avermelhado escorrendo de seus olhos enrugados, que segue até a face descomposta.
Naquele momento não existiria palavras para consolá-lo, a sua tristeza era aparente. Agora Salazar teria que escolher muito bem suas próximas palavras. “Mas como esse homem de aparência tão pavorosa pode ter um coração tão puro”?- pensou Salazar. Estava surpreso, e ao mesmo tempo triste com aquela situação.
— Por favor, não chore... Por acaso poderia voltar a narrar sua história? — Sussurrou Salazar com o coração em pedaços, afinal era incrível poder ver aquela criatura de aparência tão monstruosa, derreter-se daquela maneira.
Fedors levou vagarosamente seus dedos esqueléticos até suas olheiras, secou suas lágrimas:
— Desculpe-me pela minha recaída, pois me perdi em minhas tristes lembranças. Voltarei a narrar minha jornada, mas preste muita atenção, porque a partir de agora muitas coisas serão reveladas...